Já fiquei triste tantas vezes, mas nunca assim.
Já fiquei mais triste do que estou agora, mas nunca tão triste.
A tristeza é uma criança de rua com uma faca apontada pra falta de amor que o mundo ofereceu pra ela.
Uma meleca no nariz que nenhuma mãe limpou se transformando nos olhos de um adulto assassino.
A tristeza é um pedaço de vidro numa mãozinha pequena.
A tristeza é um anjo que não arrumava ninguém pra poder agir como um anjo e foi ficando bem diabólico. A tristeza é ter que comer um risoto caro, com amigos felizes, quando só se quer vomitar no banheiro de casa, sozinha. E triste.
Eu quero vomitar tudo. A água, a saliva, a língua, o seco da garganta, a amígdala, o apartamento de milhões de metros quadrados vazios que virou o meu peito.
Quero vomitar minha pele, meus olhos, meu fígado, meus horários, minhas listas de vontades. Eu quero tudo fora, tudo fora. Eu quero eu fora.
Eu quero ir pra fora de onde está tão devastado e de onde eu tinha pintado tudo de azul pra te ver sentado bem no centro. No centro do meu peito, você, com a luz azul da minha esperança.
A tristeza me fez um milhão de vidas essa semana. Um milhão de almoços e jantares e projetos.
Eu sorrindo, implorando às distrações que me levem, que façam remendos em meu peito perfurado pela violência do ar que não assovia mais os seus sons.
A tristeza me fez cortar o cabelo e me fez prometer alguma sedução para alguém que jamais receberá nada de mim.
Não existe nada mais triste do que essas coisas de dar a volta por cima e essas coisas de tocar o barco e essas coisas de sacudir a poeira e essas coisas medonhas que a gente fala ou pensa ou ouve.
A tristeza são frases vazias e feitas e tediosas saindo de bocas vazias.
A tristeza me fez repartir o calmante no meio. Tomar um. E tomar o outro. Porque nem calmante eu to suportando ver pela metade. Que pelo menos no limbo da minha mente triste alguma coisa possa viver inteiramente.
A tristeza é uma parede, uma geladeira, um computador, um telefone, uma televisão, uma cama, um elevador, um carro.
A tristeza são as ruas, os jornaleiros, as pessoas gordas atravessando, as pessoas magras atravessando.
A tristeza é o cinza, o vermelho, o azul, o transparente.
A tristeza é a próxima música, a próxima seta pra direita, a próxima seta pra esquerda.
A tristeza é o ar que sai e o ar que entra.
A tristeza é a nossa última vez juntos.
A tristeza é o amor ter acabado sem ter acabado. É não saber o que é amor e não saber o que é acabar e não saber o que é não acabar.
A tristeza só sabe que é triste e todo o resto ela só tenta saber, mas fica louca e desiste.
A tristeza é de uma simplicidade que a torna ainda mais triste.
A tristeza é deitar e pensar em coisas que não existem.
Minha pele toca no pano, na água, na tela, uma mão toca na outra. Todos os toques são tristes. Todas as posições são tristes. Amanhã será triste, ontem foi triste. Hoje é o dia mais triste do mundo.
É porque eu uso pijama feio pra dormir?
É porque eu sou egoísta e louca?
É porque eu ria de você e ria das suas coisas e ria das suas músicas e ria de nervoso porque eu gostava tanto de você que odiava você?
É porque eu criei sete mil muros pra receber alguém mas queria esmurrar até sangrar o seu único muro como se você também não fosse humano?
Ou é só porque é assim mesmo?
Assim: finito, simples e triste demais.
**Desconhecido